Nasci nos anos 80 e cresci acompanhando a redemocratização do Brasil. Passei a infância e adolescência ouvindo de todos que minha geração seria o futuro do País, que faríamos a diferença para melhorar a nação. Hoje, aos trinta e seis anos, com o resultado das eleições e com o quadro político nacional, por um instante, coloquei o fardo da mudança na geração da minha filha de nove anos... Por um momento quase me libertei do peso, quase lavei as mãos. Teria cometido o mesmo erro de quem apostou tudo na minha geração. Mas recobrei a razão a tempo. Não adianta jogarmos a responsabilidade pro futuro. Temos que agir agora, ainda dá tempo de mudar. A direita, que saiu vencedora, pode sim, se usar a empatia como norte, fazer um bom trabalho. A esquerda não morreu, restou a verdadeira esquerda, que não deve ser oposição por oposição, tem que ser fiscalizadora até reconquistar a confiança do povo. E nós, que fomos um dia a geração do futuro, é hora de mudarmos o presente, um círculo por vez (família, amigos, trabalho...). Teremos quatro longos anos para nos reinventarmos... Ainda tenho esperança de viver dias melhores!
Pedro Pedroza Cardoso
Opiniões e Impressões em verso e prosa...
sábado, 3 de novembro de 2018
sexta-feira, 12 de outubro de 2018
Inclusivo ou excludente?
Esse ano conheceremos o verdadeiro rosto do brasileiro médio. Teremos uma oportunidade de autoconhecimento. Dependendo do resultado das eleições, veremos de que tipo de fibra somos feitos. Se inclusiva ou excludente...
Penso assim...
Dizer "penso assim e pronto" fecha uma porta valiosa para o crescimento, a porta da transformação. Através dela podemos diminuir nossa limitação! O voto é o momento, como cidadãos, que nos exige o mais árduo esforço de empatia. Ser solidário ao votar, é ser maduro, é ser sensato!
domingo, 11 de setembro de 2016
Flexibilização da CLT - II
Que tal um exercício de empatia, meu caro amigo funcionário público, estatutário, que defende a flexibilização da CLT? Lembra quando você era funcionário da iniciativa privada, antes de passar no concurso? Era difícil negociar as férias, as horas extras e as folgas com o patrão, não era?! Então, tente se colocar no lugar do funcionário celetista e pare de apoiar quem defende menos direitos aos trabalhadores, pois você está defendendo o aumento do tamanho do chicote que baterá no seu próximo (parente ou amigo). Acorde! Os funcionários públicos também estão na fila para perder direitos. Este chicote, de tão longo, alcançará a todos!
Flexibilização da CLT - I
Então quer dizer que o trabalhador terá a “liberdade” de optar ou não por trabalhar as 12 horas? Quanta ingenuidade, meus amigos! O patrão (lado mais forte), dizendo ao trabalhador (lado mais fraco), que em sua empresa os funcionários terão(!) que trabalhar as 12 horas, quem é que se oporá contra essa decisão, colocando em risco o seu emprego? A exceção se tornará regra, caros colegas, isso é o que a flexibilização da CLT trará...
domingo, 29 de maio de 2016
Hora de Acordar
Levante-se!
Não permita que te subjuguem.
Cante a canção do homem,
grite a canção da vida!
Cante, grite!
Tua canção é digna de ser
ouvida...
Levante-se!
Deixe a ira ser vista nos teus
olhos.
Não permita que cortem a última
árvore do teu bosque,
a última flor do teu jardim!
Não se cale...
Cante, grite!
Terra
Terra...
A árvore da vida em chamas.
Fogo refletido nos olhos da índia
que esqueceu seu nome.
Nos olhos ferozes de quem a tudo
um nome novo dá!
Terra...
A benção onde germinam sonhos.
Desejos usurpados e violentados pelo
latifúndio.
Ferida aberta. Adubo feito com
sangue e lágrimas camponesas!
Fome
Que fome que corrói as entranhas
da minha mente...
Quero ingerir uma prosa orgânica
e versos calóricos.
Insaciavelmente quero degustar
sonetos!
Devoro livros, sorvo poemas...
Meu cálice nunca está vazio, ao
contrário!
Transborda vinhos de telas
tintas,
licores de aromas esculturais.
Tenho a arte como maná, como
panaceia.
Perto de mim vejo Baco em uma
vinícola de ideias e
Ceres em plantações de sonhos...
Prossigo insatisfeito, faminto!
Recomeçar
Um recomeço e seu primeiro passo...
Pés descalços a tocar a
incerteza, terra tão fria!
Um segundo passo, novos calos...
Já é tempo de correr.
Corre menino, corre!
O mundo urge em lhe rever.
Amadurecer
Aqui, como que desgarrado de mim
mesmo.
Sem arrependimentos, sem
certezas... nada importa!
A voz ecoa no vazio
entorpecido,
a mente se abstrai, o suplício já
não fere tanto.
Acalmo meus olhos, repouso as mãos.
A música preenche os espaços e hiatos...
Nada mais de tatear o
escuro,
caminharei guiado pelo som do
vento,
minha única realidade.
Escolhas
O tempo finge ser um pai
compreensivo:
Vá filho, és livre, siga o teu
caminho.
Tempo, tempo...
Nem pai, nem amigo.
Apenas um implacável punidor!
Ilusão
Sorrisos escondidos no tempo, amargos por trás dos dentes.
Não confortam, não correspondem, murcham as folhas.
A última pá de cal...
Olhares soltos ao vento, chocando-se contra as paredes.
Ninguém os colhem, são semeados
nas rochas.
Queimam sob a luz do sol...
Mãos no peito se perdendo,
procuram todos os prazeres.
Tocam, se entregam, ferem,
inimigas, mentirosas...
O inicio de todo mal...
Epifania
Aqui, onde a estrada finda,
não faz diferença olhar para a
esquerda ou direita.
O peso fica suportável,
possibilita a grata visão do todo!
Eternizar-se em palavras e
princípios?
Convicções tão sólidas? Tolice!
Tudo dissipa-se na mais suave
brisa...
Dicotomia
Sempre flertei com a
inconstância.
Hoje quente, amanhã frio.
Hoje não, amanhã sim!
As incertezas duelam com as
afirmações.
A boca nega, os olhos confirmam.
Falta-me a passividade do meio,
do morno, do talvez...
Meus trinta e poucos anos
A alvorada da vida, o
despertar...
O sangue ferve nas veias,
chega à boca com gosto de vinho,
esquenta o corpo como ferro sendo
forjado!
O entardecer, tudo se acalma...
Os pensamentos estão cansados,
os rostos já não são mais tão atraentes,
os sorrisos escondem o que os
olhos não negam!
É o anoitecer da alma...
Aí, uma nova manhã vem!
Trás novas possibilidades,
certezas de infinitos recomeços,
sorrisos recíprocos e verdadeiros.
Nota que ainda há beleza...
O caminhar volta a ser firme, os
passos largos!
Os sonhos estão livres, as quedas
não doeram tanto...
Afinal, não se passou tanto tempo
assim!
CRIAR
CRIAR I
Luto e ressurreição das ideias.
Perco-me. Reencontro-me.
A pena está muda,
os versos deslizam entre os dedos,
a poesia nasce entre espinhos.
Vi de longe o ideal...
Quis tocá-lo, veementemente afirmá-lo!
Mas as mãos se perderam
e os lábios não conseguiram...
CRIAR II
Prosas e poesias em sono profundo.
A liberdade do papel e caneta apresentada...
Punho firme, papel ferido, intimidade exposta.
Que pena. Sangue em vão! Nada de novo ocorre.
Volto aos sonhos e ao papel em branco.
Luto e ressurreição das ideias.
Perco-me. Reencontro-me.
A pena está muda,
os versos deslizam entre os dedos,
a poesia nasce entre espinhos.
Vi de longe o ideal...
Quis tocá-lo, veementemente afirmá-lo!
Mas as mãos se perderam
e os lábios não conseguiram...
CRIAR II
Prosas e poesias em sono profundo.
A liberdade do papel e caneta apresentada...
Punho firme, papel ferido, intimidade exposta.
Que pena. Sangue em vão! Nada de novo ocorre.
Volto aos sonhos e ao papel em branco.
sábado, 28 de maio de 2016
Renovar-se
O vento sopra mudanças lá fora,
clima propício ao devaneio.
Hora de romper com o óbvio e
flertar com o novo...
Nada mais de desejos ocultos pela
noite!
Inspiro o fardo do dia e expiro a
leveza de uma manhã de sol.
Tudo parece bem, todos há de serem bons...
E Hoje? Libertar-se...
Hoje
os amigos não estarão presentes,
olhares
não se encontrarão.
Sorrisos
de aprovação? Não, hoje não!
Apenas
o caminho, suas pedras e a poeira do tempo...
Hoje
os amigos não erguerão suas taças,
nada
de ombros ou abraços.
A
opção pela liberdade é uma porta aberta, mas passarás sozinho por ela... irás à rua?
Em
casa ou lá fora, traçarás o vosso destino...
Seguir
a todos ou tentar um passo diferente?
Desafiam-te
os olhos acusadores, cenhos franzidos.
Quem
és? Como permitir-se tudo?
Ora,
a liberdade não é recompensa, é responsabilidade!
Irás
lá fora? A porta ainda está aberta.
Se
fores, reconhecerás alguém e juntos receberão uma sentença...
Absolvição,
culpa, quem sabe?
As respostas virão, mas vocês já
estarão longe...
sexta-feira, 27 de maio de 2016
Nós entre os 30...
O ser humano passa a vida toda amando e sendo amado, mudando de
relacionamentos (monogâmicos ou poligâmicos) e muitas vezes não chega nem perto
de ter 30 parceiros sexuais durante toda a sua existência. Estamos falando de relacionamentos ou parcerias sexuais onde a regra é o amor, o carinho e o consentimento. Pois é meus amigos, essa
moça foi ESTUPRADA por mais de 30 homens em uma única noite! ESTUPRO, onde a
regra é a violência, o desprezo pela vítima e a força. Tamanha brutalidade e bestialidade só
são comumente vistas em tempos de guerra! É para todos ficarmos chocados mesmo!
Todos temos que discutir, escrever, comentar e lutar até que a cultura do
estupro acabe! Principalmente nós homens, pois somos os principais culpados e
disseminadores desse mal. Sim, fazemos parte desses 30 monstros! Quando colocamos
a culpa do estupro na vítima, quando dizemos que ela mereceu ou quando
afirmamos que o fato não teria ocorrido se ela estivesse em casa ou na igreja.
Mesmo nas pequenas atitudes do dia a dia nós fazemos parte desses 30 canalhas.
Nos nossos machismos diários, inferiorizando as mulheres, quando as agredimos,
as ofendemos pelo tamanho de suas roupas, as coagimos nas baladas e criticamos
suas lutas e ideais feministas... São tempos difíceis, elas estão realmente em
guerra! Só não podemos deixá-las guerreando sozinhas. Temos todos que combater
o bom combate, homens e mulheres juntos contra a cultura do estupro,
diariamente, pois é o bem maior que está em jogo, a VIDA!
quinta-feira, 12 de maio de 2016
Luto ou Lutar?
Não vou ficar aqui torcendo pelo pior! O “EU AVISEI” me parece muito egoísta e cheio de ego em algumas ocasiões. Não é doce como um "EU TE AMO" ou sincero como um "ME PERDOA", ao contrário, é amargo e cheio de angústia. Tenho uma filha para criar e prezo muito pelo futuro dela. Para isso o Brasil precisa de estabilidade política e econômica, mas também não vou me calar ante as aberrações da nossa política. É pelo futuro delas, as crianças, que não podemos fechar os olhos, temos sim que discutir e repensar. A motivação da derrubada da Dilma não foi a retomada da ética e o combate à corrupção? Não era essa a bandeira que todos levantaram nas ruas? Pelo jeito para Temer (que está inelegível) não é bem assim. Teve a oportunidade de escolher um ministério técnico, sério e voltado para o crescimento do Brasil, mas não o fez! Loteou o país como todos os outros fizeram antes (PSDB e PT). Dividiu as pastas entre os novos aliados do PMDB apenas para satisfazer os seus interesses pessoais. Alguns dos escolhidos estão inclusive sendo investigados pela operação laja-jato, como: Romero Jucá, que assume o Planejamento; o ex-deputado Henrique Eduardo Alves agora no Turismo; o ex-ministro da Integração Nacional Geddel Vieira Lima que está na Secretaria de Governo; Bruno Araújo que assume as cidades e Ricardo Barros na Saúde. As nossas escolhas dizem muito sobre o que nós somos e o que pensamos. Não me parece uma boa escolha para combater a corrupção. Está claro que é apenas o poder pelo poder, senão nas urnas, na marra... E agora? O que esperar? Talvez piore, talvez melhore. Torço pelo melhor, temos que torcer pelo melhor. É o nosso futuro que está em jogo! Até pedirei desculpas futuramente pelas palavras ferinas se eu estiver errado, pois só não quero ter que dizer, com gosto de fel na boca, “EU AVISEI”.
terça-feira, 22 de março de 2016
O início da escuridão...
Estamos acompanhando nos noticiários várias manifestações de ódio contra a esquerda brasileira (não necessariamente o PT) e contra as minorias. Essa crescente onda de intolerância, ainda escondida pelos becos e na calada da noite, de forma covarde contra quem ousa trajar vermelho num passeio noturno é a face oculta de um desejo radical que cresce no coração da direita extremista... Sabemos muito bem no que isso pode dar. Estamos de olho!
quinta-feira, 17 de março de 2016
Quanto mais confuso melhor... Pare eles!
Momento confuso em nossa política nacional: a Presidente Dilma usa um cargo para tentar livrar o amigo Lula da justiça (mesmo que temporariamente); a justiça na figura do Juiz Moro usa a imprensa para causar instabilidade divulgando escutas ilegais. Estamos diante de um governo que quer ser maior que a justiça e de uma justiça parcial que quer ser política. Se continuar assim, esse governo que não dá para apoiar e essa oposição em forma de sentença judicial, irão transformar o Brasil em um Estado Policial sem a intervenção das forças armadas!
quarta-feira, 16 de março de 2016
A busca pela ética
Nosso momento político é controverso. Está muito difícil acertar um lado certo... Que tal focarmos então nos nossos princípios? Aqueles ensinados pelos nossos pais e pelos professores do primário. Se pensarmos bem não é difícil de lembrar. Independentemente de partido, vamos tentar mudar o país? Que acham? Não apenas no planalto, mas no cotidiano. Vamos todos dizer diariamente, assim como nos Narcóticos Anônimos: só por hoje eu vou ser honesto; só por hoje não vou furar fila; só por hoje não vou tentar levar vantagem; só por hoje não vou subornar o funcionário público... Um dia por vez. Uma luta diária contra nós mesmos e contra o "jeitinho". Todos nós iremos mudar. O Brasil vai mudar. Há outra forma de forjar um futuro melhor?
domingo, 13 de março de 2016
O povo nas ruas
Hoje muitos amigos foram pras ruas protestar.
Amigos queridos, pessoas de bem que realmente querem ver o Brasil mais justo.
Com esses amigos, grandes amigos, eu iria de peito aberto combater o bom
combate! Mas como me calar ante a tanta atrocidade e hipocrisia que vi? - Aécio
Neves nos braços do povo, pedidos de intervenção militar, Jair Bolsonaro sendo
chamado de mito, desfiles de políticos oportunistas - Alto lá meus amigos, não
tem algo estranho aí? É bom ver o povo brasileiro pintando as ruas de verde e
amarelo, gritando palavras de ordem e tentando mudar o país, mas me parece que
o que começou em junho de 2013 foi pervertido e virou um desfile de moda, algo
manipulado pela direita coxinha, bem diferente da espontaneidade das “Manifestações
de Junho”. Por isso não fui... Agora, se forem derrubar o governo, todos os
governos em todas as esferas de poder (municipal, estadual e federal), em uma
revolução que culmine com a queda dessa nossa velha e desgastada política, podem
me chamar que eu vou, pois aí sim haveria mudança!
quinta-feira, 14 de agosto de 2014
Quando jogar a pedra...
Procuro sempre olhar as situações com certo distanciamento, tentando enganar a minha condição humana e ser imparcial nas minhas posições. Talvez agora eu não consiga e caia no erro da parcialidade, por isso aceito as opiniões dos amigos. Quando vejo as batalhas travadas entre manifestantes e policiais nas ruas, acabo ficando pesaroso. Dividido entre a tristeza e a vergonha, principalmente quando as manifestações são reprimidas com violência. Contudo, sempre que vejo as pedras sendo arremessadas em direção aos policiais, penso que o manifestante errou a mira. Deveria tê-la jogado com um pouco mais de força! A pedra deveria passar por cima desse escudo do Estado, que é feito de carne e osso, e continuar voando, como se tivesse vida própria, abandonando sua condição de mineral e, organicamente, com a fúria de uma nação enganada, acertar o teto de vidro de algum político corrupto. Mas é sempre ação e reação. Manifestação X Polícia. Pedras X Cassetetes. Que pena tanta energia ser canalizada uma contra a outra, enquanto quem saqueia o país vê tudo pela TV. Além da parcialidade, vou me permitir um segundo erro neste texto, a utopia: Seria muito bonito ver coturnos e tênis caminhando na mesma direção, lado a lado, com o mesmo objetivo. Os políticos brasileiros tremeriam...
quarta-feira, 28 de maio de 2014
A ARQUEOLOGIA HISTÓRICA EM RONDÔNIA E O PATRIMÔNIO QUE NOS FOI LEGADO – O DEBATE PATRIMONIAL
Aluno: Pedro Pedroza Cardoso – agente_pedroza@yahoo.com.br
Fundação Universidade Federal de Rondônia - UNIR
Curso de Bacharelando em Arqueologia - 7º Período
Cadeira de Arqueologia da Floresta Tropical
Cadeira de Arqueologia da Floresta Tropical
Professor Carlos Augusto Zimpel
Resumo
Este trabalho tem a intenção de colaborar com a compreensão da Arqueologia Histórica de Rondônia e
ainda abrir uma oportuna discussão acerca do descaso com que é tratado o
patrimônio histórico cultural do Estado. Salienta ainda questões acerca
do passado recente dos nossos habitantes, bem como a difícil e conflitante
interação entre os povos indígenas e os exploradores e colonos que por aqui
passaram e se instalaram, formando vilas e cidades dentro da floresta amazônica.
Enfatizamos também que esta pesquisa procura contribuir com o fortalecimento da nossa
identidade social, pois tenta alertar os Rondonienses sobre a
importância de conhecermos nosso passado recente, para que assim possamos
respeitá-lo, passando a consciência e desejo de preservação dessas riquezas
culturais para as gerações vindouras.
Palavras-chave: Arqueologia Histórica. Preservação do Patrimônio.
Identidade Cultural.
1 – Introdução
É notório que o
Estado de Rondônia possui inúmeros patrimônios históricos que necessitam
urgentemente de serem estudados e pesquisados mais profundamente, bem como restaurados, preservados, musealisados e, em
muitos casos, apresentados à população.
Escolhemos
três temáticas principais para esta discussão: O Real Forte do Príncipe da Beira (localizado na cidade de Costa
Marques, às margens do Rio Guaporé), As
Linhas e Postos Telegráficos (deixados pela Comissão Rondon, restando apenas
dois postos localizados nas cidades de
Vilhena e Ji-Paraná) e A Estrada de
Ferro Madeira-Mamoré (estendendo-se da Capital Porto Velho até a cidade de
Guajará Mirim), que de longe são os nossos principais e mais conhecidos
patrimônios históricos, porém não menos abandonados e frutos do descaso do
Poder Público.
2 – O Real Forte do Príncipe da Beira – Breve Relato Histórico
O Real Forte do Príncipe da Beira,
também conhecido como A Fortaleza do
Príncipe da Beira, que está situado na margem direita do Rio Guaporé, na
cidade de Costa Marques – RO, encontra-se em posição privilegiada na fronteira
com a República da Bolívia e é considerada uma das maiores fortalezas
edificadas no Brasil durante o período colonial.
“Com
um perímetro de 970 metros, muralhas de dez metros de altura e quatro
baluartes, onde encontramos um total de 56 canhonetas, o Real Forte do Príncipe
da Beira representava a onipotência da Coroa Portuguesa” (Oliveira, 2004).
Figura
01 – Real Forte do Príncipe da Beira
Fonte - www.pordentrodamidia.com.br
Fonte - www.pordentrodamidia.com.br
Em meados do século XVIII, com o intuito de assegurar
o domínio sobre o Vale do Guaporé e também o contínuo fluxo de navegação
fluvial, bem como eliminar as pretensões de Espanha sobre a área, a Coroa Portuguesa
resolveu construir um forte militar estratégico na margem direita do Rio
Guaporé, fronteira do Brasil com o Vice-Reino do Peru.
Esta árdua
missão ficou sob a responsabilidade do Capitão General Dom Luiz Albuquerque de
Melo Pereira e Caceres, então Governador da Capitania de Mato Grosso, que tomou
todas as providências para cumprir as ordens de D. José I, rei de Portugal.
“A soberania e o respeito de Portugal
impõem que neste lugar se erga um Forte, e isso é obra e serviço dos homens de
El-Rei nosso senhor e, como tal, por mais duro, por mais difícil e por mais
trabalhoso que isso dê, (...) é serviço de Portugal. E tem que se cumprir.”
D. Luís de Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres, junho de 1776.
Então, aos 29
dias do mês de junho do ano de 1776, foi fixada a pedra fundamental no alicerce
do ângulo do baluarte Nossa Senhora da Conceição, que fica na direção do
poente, assim sendo oficialmente dado o início da construção sob a
responsabilidade do engenheiro militar Domingos Sambocet.
Trabalharam
neste empreendimento mais de duzentos operários e artífices de várias
especialidades, provindos de Belém e do Rio de Janeiro e ainda centenas de
escravos. A obra foi concluída em 1783, pelo Capitão Ricardo Franco de Almeida
Serra, que teve que substituir Domingos Sambocet, falecido durante a
construção, vitimado pela malária.
As rochas
usadas na construção foram encontradas no próprio local e a Cal foi obtida em
Belém, Albuquerque e Corumbá. A artilharia é provinda de Lisboa. O Capitão de
Dragões foi o primeiro comandante da fortaleza que, além do intuito de assegurar
a posse do Rio Guaporé para Portugal, seria ponto de apoio para a contínua expansão
lusitana na direção oeste até as minas no Vice-Reino do Peru.
A partir do
final do século XVIII, com a consolidação do domínio lusitano sobre a região, o
forte perdeu a sua importância estratégica. Em 1864 a fortaleza contava com
apenas dez soldados, onde sete deles estavam destacados no Presídio das Pedras.
No século XIX foi usado como presídio político, guarnecido com quatorze praças
e um tenente. Abandonado à época da Proclamação da República, o forte passou à
guarda do Estado do Mato Grosso.
Marechal
Rondon, em 1914, visitou as ruínas e efetuou trabalhos de limpeza no local, contudo
demorou mais dezesseis anos, ou seja, só em 1930, para que uma nova expedição
do Exército as revisitasse, guarnecendo-as novamente dois anos depois com a
instalação do Contingente Especial de
Fronteira do Forte Príncipe da Beira. (Fonte Ovídio Amélio de Oliveira).
Figura
02 – Marechal Rondon visitando o Forte
Fonte - www.alekspalitot.blogspot.com.br
Fonte - www.alekspalitot.blogspot.com.br
2.1 – O Legado Patrimonial
Abandonado e
vítima de descaso por décadas pelo Poder Público, o Real Forte do Príncipe da
Beira, que é um dos marcos mais monumentais da ocupação portuguesa na
Região Amazônica, começou a ser estudado
em 2009 para futuramente ser restaurado e musealisado.
Figura
03 – Ruínas do Real Forte Príncipe da Beira
Fonte - www.globoamazônia.com in www.injipa.com.br
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Um projeto de
recuperação de fortificações do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional) permitiu conhecer de forma mais esclarecedora como era a
rotina no Forte. Milhares de artefatos foram encontrados nas escavações da
parte interna. Os trabalhos foram realizados por uma equipe composta por
arqueólogos, biólogos, engenheiros e arquitetos especialistas em construções do
século 18, pesquisa desenvolvida por Fernando Marques, Arqueólogo do Museu Paraense Emilio Goeldi (www.injipa.com.br).
Figura
04 – Unidades Abertas no interior do forte
Fonte - www.globoamazônia.com in www.injipa.com.br
Fonte - www.globoamazônia.com in www.injipa.com.br
Segundo o coordenador dos trabalhos, observando os artefatos arqueológicos recolhidos durante as escavações, pode-se observar a
interação entre os militares e a população da região, pois foram recolhidas
louças europeias misturadas com cerâmicas nativas. Dentro do espaço físico do
forte havia uma capela, um hospital, um boticário e nas suas proximidades foram
sendo erguidas comunidades.
Figuras
05 e 06 – Artefatos encontrados durante as escavações
Fonte - www.globoamazônia.com in www.injipa.com.br
Fonte - www.globoamazônia.com in www.injipa.com.br
Infelizmente,
após as escavações e recolha do material, novamente o Real Forte do Príncipe da
Beira foi abandonado pelo Poder Público, que não deu prosseguimento ao projeto
de musealisá-lo, alegando falta de condições financeiras.
3 – As Linhas e Postos Telegráficos de Rondon – Breve Relato Histórico
As expedições
na Amazônia no fim do século XIX e princípio do século XX surgiram da
necessidade de integrar as regiões pouco exploradas do Brasil, devido a isso o
governo brasileiro iniciou uma política de ocupação e povoamento. Essa política
abrangia uma grande região, desde o Mato Grosso ao Amazonas. A ideia era
colonizar estas áreas com população não indígena, construir estradas, educar os
índios, instalar meios de comunicação, etc.
Com este
intuito o Exército reorganizou em 1880 o Batalhão de Engenheiros, que se
dedicava à construção de linhas de caminhos de ferro e de linhas telegráficas.
O Marechal Rondon pertenceu e chefiou algumas das comissões criadas para a
construção das linhas telegráficas.
As expedições
realizadas permitiam ainda explorar geográfica e cientificamente regiões vastas
e desconhecidas. Neste âmbito, o antropólogo Edgar Roquette-Pinto, acompanhou a
Comissão Rondon, tendo documentado a parte científica, ao debruçar-se
essencialmente sobre as tribos Parecí e Nambiquarás.
Em 1900,
Cândido Mariano da Silva Rondon, jovem oficial do Exército, tornou-se chefe da
Comissão de Linhas Telegráficas do Estado do Mato Grosso e, em 1907, comandou a
Comissão de Linhas Telegráficas do Mato Grosso ao Amazonas. Sendo ela conhecida
como Comissão Rondon, que aconteceu entre 1907 e 1915.
Os principais objetivos
eram a integração dessas áreas desconhecidas à nação brasileira, expandir a
autoridade do Estado Central e o reconhecimento, demarcação de terras,
exploração dos rios, entre outros.
Durante um
discurso em que demonstra ser partidário de Getúlio Vargas, Rondon expressa
claramente qual era a visão e política do Governo para com a Amazônia:
"Por
este conduzir a bandeira política e administrativa da Marcha para o Oeste,
visando ao alargamento do povoamento do sertão e de seu aproveitamento
agropecuário com fundamentos econômicos mais sólidos e eficientes. Homenagem
pela sua expressão de simpatia para com os indígenas e disposição de ocupar o
vazio do território que permanecia despovoado."
Rondon e sua
comissão, formada por botânicos, zoólogos, antropólogos, geógrafos, entre
outros especialistas, investigaram, analisaram e constataram o clima, as
doenças, rios, plantas, animais, o solo, a agricultura e todas as condições dos
lugares. Além disso foram construídos aproximadamente 4.500km de linhas
telegráficas, 55 estações, construção de estradas, pontes, e
principalmente, a elaboração de mapas de lugares, ate então desconhecidos.
Figura
07 – Comissão Rondon
Fonte - www.comissaorondon.blogspot.com
Fonte - www.comissaorondon.blogspot.com
Logo após a
conclusão da rede de linhas telegráficas do Mato-Grosso ao Amazonas, surgiu o
rádio, que de imediato suplantou por completo o lugar do telégrafo nas
comunicações.
A Comissão
teve grande importância em se tratando de desenvolvimento científico e
comunicação viária, contudo são conhecidos depoimentos de índios parecís que
afirmam que foram vítimas do desenvolvimento das linhas telegráficas, uma vez
que seu território foi adulterado e de certa forma foram forçados a integrar-se
na “civilização”, com o sacrifício da identidade cultural. (Fonte Abnael
Machado de Lima).
3.1 – O Legado Patrimonial
No caminho
aberto pela linha telegráfica nasceram povoações que anos mais tarde
tornaram-se municípios, como: Vilhena, Pimenta Bueno, Cacoal, Presidente Hermes
(hoje Presidente Médice), Presidente Pena (hoje Ji-Paraná), Jarú e Ariquemes.
Figura
08 – Localização dos Postos Telegráficos no Estado de
Rondônia
Fonte - Abnael Machado de Lima
Todas estas
localidades abrigaram postos telegráficos, que nos dias atuais, ou foram
totalmente destruídos, ou estão em péssimo estado de conservação.
Figuras
09 e 10 – Postos Telegráficos de Vilhena e Pimenta Bueno
Fonte - www.amazôniadagente.com.br
Fonte - www.amazôniadagente.com.br
Figuras
11 e 12 – Postos Telegráficos de Ji-Paraná e Jaru
Fonte - www.puraverdade.com.br
Fonte - www.puraverdade.com.br
Dos dezesseis
postos telegráficos edificados por Rondon no Estado de Rondônia, apenas dois
sobreviveram ao tempo e ao abandono, sendo eles os que foram instalados nos
municípios de Vilhena e Ji-Paraná. O Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional (Iphan) realizou a instrução do processo de tombamento nº
1055- T – 82 destas antigas estações telegráficas, que serão restauradas,
revitalizadas e musealisadas.
4 – A Estrada de Ferro Madeira-Mamoré – Breve Relato Histórico
Também
conhecida como a “Ferrovia do Diabo” devido as grandes perdas humanas que
aconteceram no período de sua construção. A EFMM foi construída no período de
1907 a 1912, com a finalidade de ligar Porto Velho a Guajará-Mirim, para o
escoamento da borracha da amazônica brasileira e boliviana.
Figura
13 – Mapa da Ferrovia
Fonte - www.vfco.brazilia.jor.br
Fonte - www.vfco.brazilia.jor.br
O projeto
“Madeira-Mamoré Railway” foi apresentado com a intenção de solucionar o
problema de uma falta de passagem sobre o rio Madeira, na época em que o Brasil,
através do Tratado de Petrópolis, adquiria a posse sobre as terras que hoje
pertencem ao estado do Acre.
Este projeto
teve como objetivo dinamizar a distribuição da borracha amazônica boliviana e
brasileira até a cidade de Porto Velho, que daria origem a um ponto de
escoamento. Saindo de Porto Velho, a borracha, bem como outras tantas
mercadorias, seguiriam a rota fluvial pelo rio Madeira e também pelo rio
Amazonas até chegarem ao oceano Atlântico.
Figura
14 - Porto Velho surgiu com o movimento causado pelo porto na época da
construção
(foto Danna Merryl)
Após duas
desastrosas tentativas de construção da ferrovia no século XIX, ela recebeu
volumosas somas de dinheiro do empresário norte-americano Percival Farquhar.
Havia até o mito de que mesmo com todo o dinheiro do mundo e metade da
população empenhada na obra, seria impossível construí-la. Mas Farquhar aceitou
o desafio e afirmou:
“(...)
vai ser o meu cartão de visitas”
Foi finalizada
em 30 de abril de 1912, data que também marcou a fundação da cidade de
Guajará-Mirim, contudo muitos trabalhadores pereceram durante a sua contração,
vítimas de acidentes de trabalho e de inúmeras doenças tropicais.
Figura
15 – Pacientes no Hospital da Candelária
(Foto Danna Merryl)
(Foto Danna Merryl)
Com a
decadência da borracha brasileira, em decorrência do plantio da seringueira na
Ásia, a ferrovia também entrou em crise. Nos anos 30, a Estrada de Ferro foi
parcialmente desativada.
Em 25 de maio de 1966, após 54 anos de atividades,
a Estrada de Ferro Madeira-Mamoré teve sua desativação determinada pelo então
Presidente da República Humberto de Alencar Castelo Branco, para ser
substituída por uma rodovia, para que não houvesse o rompimento e
descumprimento do Tratado de Petrópolis.
E em 10 de julho de 1972 as máquinas apitaram pela
última vez, ficando assim a ferrovia no abandono por muitos anos, tendo
parte do seu acervo vendido como sucata para uma empresa siderúrgica de Mogi
das Cruze, São Paulo. (fonte Fernando Rebouças).
4.1 – O Legado Patrimonial
Em
10 de novembro de 2005 a nossa
histórica ferrovia foi tombada pelo (IPHAN) e em 28 de dezembro de 2006, o
Ministério da Cultura homologou, através da Portaria 108, o tombamento da Estrada
de Ferro Madeira-Mamoré como Patrimônio Cultural Brasileiro.
“DOU
19.07.2007
Define
os critérios para controle de intervenções sobre o conjunto Histórico,
Arquitetônico e Paisagístico do Pátio Ferroviário da Estrada de Ferro
Madeira-Mamoré, na Cidade de Porto Velho/RO, tombado pelo IPHAN nos termos do
Decreto-Lei nº 25/37, e dá outras providências.
O
PRESIDENTE DO INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL - IPHAN,
no uso das atribuições que lhe confere o inciso V do art. 21 do Decreto nº 5.040,
de 07 de abril de 2004, e considerando:
Que
o Conjunto Histórico, Arquitetônico e Paisagístico da Estrada de Ferro
Madeira-Mamoré (EFMM), formado pelo Pátio Ferroviário, os oito quilômetros de
estrada de ferro que vai da Estação Central até a Estação de Santo Antônio, as
três Caixas d'água e o Cemitério da Candelária, na Cidade de Porto Velho-RO, em
razão de possuírem um excepcional valor cultural, são monumentos integrantes do
Patrimônio Cultural Brasileiro, na forma e para os fins do Decreto-Lei 25/37 e
do Processo IPHAN no- . 1220-T-87;”
Assim, o IPHAN autorizou, em novembro de
2011 o início das obras de restauração da grande oficina da Estrada de Ferro
Madeira-Mamoré, que possui 5.700 m2 e 13 metros de altura, contudo ainda há um
grande descaso com o patrimônio da EFMM, como atestam as fotografias a seguir:
Figuras
16 e 17 – locomotivas e ponte de metal abandonadas
Fonte - www.gentedeopiniao.com.br
Fonte - www.gentedeopiniao.com.br
Figuras
18 e 19 – Mobília da EFMM empilhada em uma caminhão e túmulo do
Cemitério da Candelária
Fonte - www.rondoniaovivo.com
Fonte - www.rondoniaovivo.com
5 – Considerações
Finais
Todas estas
imagens, fotografias e mapas que vimos ao longo do desenvolvimento deste
trabalho, apontam e comprovam o grande descaso e irresponsabilidade do Poder Público
para com o patrimônio histórico material do Estado de Rondônia. Há uma
perturbadora falta de zelo para com os símbolos que representam a formação
desse estado que possui uma das histórias e culturas mais interessantes do país.
Estamos presenciando
tempos de constantes transformações e “desenvolvimento” econômico que, banhados
pelos ideais capitalistas, fecham os olhos para o nosso patrimônio histórico
material e imaterial, objetivando apenas o lucro pelo lucro. Uma irracional
rejeição ao dito “velho”, como se impedisse e atrasasse o progresso, mas muito
pelo contrário, auxilia e impulsiona-o.
Claramente não
está sendo levado em conta que este progresso é vazio se não tiver como base o
respeito à memória e à cultura do povo que, constantemente mantido às escuras
pelos governantes, sem uma devida e extremamente necessária educação
patrimonial, torna-se gado e massa de manobra. Uma
das maneiras mais eficazes de despertar o interesse de uma população para a sua
história é o estímulo e incentivo que ocorre por meio de uma educação
patrimonial. Porém uma educação patrimonial demagógica, de discursos
memorizados não funciona, as questões patrimoniais devem estar vivas e presentes
nas escolas, nas empresas, nas conversas de bares, nas passeatas, no dia-a-dia
da nação. Quando um povo não dispõe desta ferramenta para manter vivo esse
interesse, os acontecimentos importantes e os rotineiros vão ficando apenas nas
narrativas e tradições orais daqueles que presenciaram àquelas situações e infelizmente
morrem com eles.
Não
cuidar do passado de um povo é um crime muito cruel, é alienar o mais fraco, é
subjugar aquele que não sabe se defender e que muitas vezes nem sabe da
necessidade de se defender. Por isso precisamos obrigar urgentemente que nossos
representantes políticos tornem a preservação ao patrimônio uma prioridade,
assim como a educação, a saúde, a seguranças, o lazer, etc., pois um país que
preserva e respeita a memória de seu povo, forma criadores e não apenas meros
espectadores, chama as pessoas a refletirem sobre as suas realidades. Movimenta,
Cria, Muda!
6 – Bibliografia Consultada
BARBOSA, Francisco de Assis;
NUNES, José Maria de Souza. Real Forte Príncipe da Beira. Rio de
Janeiro: Spala Editora/Fundação Emílio Odebrecht, 1985.
FARIA, Miguel. Príncipe da Beira:
a fortaleza para além dos limites. Lisboa: Revista Oceanos, nº 28,
out.-dez/1996, p. 54-68.
FARIAS,
Marcello. Príncipe da Beira, um forte de grande importância na consolidação da
nossa fronteira. s.l.: Revista Nacional, nº 229, Semana Ilustrada, p. 9.
FERREIRA, Arnaldo Manuel de
Medeiros. Fortificações Portuguesas no Brasil. Lisboa: Elo/Círculo das
Letras, 2004. p. 135.
GARRIDO, Carlos Miguez.
Fortificações do Brasil. Separata do Vol. III dos Subsídios para a História
Marítima do Brasil. Rio de Janeiro: Imprensa Naval, 1940.
MENDONÇA, Marcos Carneiro de.
"O Caminho do Mato Grosso e as Fortficações Pombalinas da Amazônia". RIHGB,
Rio de Janeiro, vol. 251, abr/jun de 1961, p. 3-32, mapas.
OLIVEIRA, José Lopes de (Cel.).
"Fortificações da Amazônia". in: ROCQUE, Carlos (org.). Grande
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1968.
OLIVEIRA, Ovídio Amélio de. Geografia de
Rondônia – Espaço e Produção. Porto Velho. Editora Dinâmica, 2005.
__________________________. História –
Desenvolvimento e Colonização do Estado de Rondônia. Porto Velho. Editora
Dinâmica, 2004.
Revista História Viva, nº 14, pg 30-41.
"Dossiê Madeira-Mamoré". Editora Duetto. São Paulo. (2004).
s.a. Histórico do Real Forte
Príncipe da Beira (2ª ed.). Porto Velho (Brasil): Governo do Estado de
Rondônia; Secretaria de Estado de Cultura, Esportes e Turismo; Departamento de
Cultura, 1983. 22 p. il.
TEIXEIRA, Marco Antônio Domingos
e FONSECA, Dante. Rondônia – História Regional, 1997.
A ANTROPIZAÇÃO PRÉ-HISTÓRICA DA PAISAGEM AMAZÔNICA: O MANEJO HIDRÁULICO NO CACICADO DOS CAMUTINS
Aluno: Pedro Pedroza Cardoso – agente_pedroza@yahoo.com.br
Fundação Universidade Federal de Rondônia - UNIR
Curso de Bacharelando em Arqueologia - 6º Período
Cadeira de Arqueologia Amazônica II
Cadeira de Arqueologia Amazônica II
Professor Carlos Augusto Zimpel
Resumo
Esta pesquisa procura contribuir para a construção do saber
científico, pois salienta interessantes questões acerca do passado remoto dos
povos amazônicos. Voltando nossos olhos especialmente para os indígenas que
viveram na ilha de Marajó e que formaram vários cacicados, como o dos Camutins (sítio
arqueológico composto por 34 aterros localizado ao longo do Rio Camutins), onde
os seus habitantes eram extremamente habilidosos no manejo hidráulico do rio,
podemos entender os indicadores de complexidade social que são de suma
importância para o estudo de cacicados, como a hierarquização, a militarização,
a centralização política, a legitimidade, a especialização e controle sobre a
circulação de bens de prestígio, entre outros (Earle, 1991). Enfatizamos também
que este trabalho colabora com a formação de nossa identidade social, pois procura
conscientizar os brasileiros acerca da importância de conhecermos nosso
passado, para que assim possamos respeitar e preservar os vestígios dessas
culturas há muito perdidas, que não são apenas um patrimônio nacional, mas
também uma fonte de saber.
Palavras-chave: Cacicados.
Complexidade Social. Manejo Hidráulico.
1 Introdução
É notório que, para o
desenvolvimento de sociedades complexas, no caso desta pesquisa, o Cacicado dos
Camutins, há que existir uma agricultura extremamente produtiva e eficiente que
possa sustentar uma razoável densidade demográfica e ainda produzir excedentes
que pudessem financiar a especialização de tarefas e uma elite, religiosa ou
ideológica.
Como então explicar o surgimento e desenvolvimento
de sociedades complexas e estratificadas na Ilha de Marajó, onde se encontram alguns dos mais pobres e
menos adequados solos para a agricultura em toda a bacia Amazônica (Schaan,
2006)?
2 Ilha
de Marajó
É
chamada de ilha
de Marajó a ilha localizada na região norte do Brasil entre os
estados do Pará e do Amapá e banhada pelo oceano Atlântico, além dos rios
Amazonas e Tocantins. A teoria mais aceita sobre a origem do nome Marajó faz
menção às observações dos índios nativos da ilha, que a denominaram de
“Mibaraió”, e que em língua tupi significa “anteparo do mar” ou “tapamar”. Com
uma área de 40.100 km², Marajó é considerada a maior ilha fluviomarinha do
mundo (ou seja, ela é cercada por rios de um lado, e por mar do outro), e maior
que muitos países independentes, como por exemplo a Bélgica, que possui 30.528
km². Contando com uma população total de cerca de 250.000 habitantes, sua área
está dividida atualmente em 15 municípios, sendo que o principal destes é
Soure, com 22 mil habitantes, seguida de Salvaterra com 17 mil habitantes. A
ilha destaca-se pela sua paisagem diferenciada, mesmo dentro da região
amazônica, e é marcada por praias desertas de água salobra, igarapés e búfalos
por toda a parte. Originário da Ásia, o búfalo chegou por volta de 1890, e se
multiplicou rapidamente, a partir de importação de exemplares da raça carabau,
originária das Filipinas. Gradualmente estes se tornaram símbolos da ilha,
sendo vistos em grandes manadas nas extensas planícies ou dispersos nas
modestas áreas urbanas, onde são usados como táxi e montaria para a polícia. É
em Marajó que se encontra o maior rebanho do animal no Brasil, com cerca de 700
mil cabeças, cerca de três vezes a população de todos os seus municípios.
O
clima é marcado por chuvas constantes, e devido ao imenso volume, todo o seu
terreno permanece alagado. Grande variedade de peixes e pássaros se fazem
presentes no seu ecossistema, com destaque para o guará, uma ave típica de
penas vermelhas. Em determinada época do ano é possível observar em seu litoral
o fenômeno da “pororoca”, que é o encontro das águas fluviais e marítimas.
Marajó
foi habitada antes da chegada dos portugueses por nações indígenas com
sociedades bem avançadas e que produziram uma arte de considerável beleza
plástica e certo renome, a chamada arte marajoara. Acredita-se que a ilha de
Marajó foi explorada pelo navegador lusitano Duarte Pacheco Pereira em 1498,
antes mesmo do resto do Brasil. Por pensar estar pisando em território
espanhol, sua exploração teria permanecido em segredo. Os indígenas locais a
chamavam Marinatambal, mas já estava desocupada ao tempo da exploração
europeia. No período colonial passa a ser denominada ilha Grande de Joannes,
para receber seu atual nome à época da independência, no século XIX. (fonte
Infoescola)
3 Cacicados da Amazônia
O aumento
demográfico das populações amazônicas na época da Pré-História tardia,
combinado a outros fatores, suscitou grandes transformações entre as sociedades
indígenas da Amazônia (John Roach). Segundo arqueólogos, as sociedades que habitavam regiões da bacia
amazônica passaram a se organizar de forma cada vez mais elaborada entre o ano
1000 a.C. e o ano 1000 d.C. (Cunha, 2008). Os arqueólogos definem estas
sociedades como “cacicados complexos” (Roosevelt, 1997). Essas sociedades tornaram-se cada
vez mais hierarquizadas (provavelmente contendo nobres, "plebeus" e
servos cativos), constituíram chefias centralizadas na figura do cacique, e
adotaram posturas belicosas e expansionistas. O cacique, além de dominar amplos
territórios, organizava continuamente seus guerreiros visando conquistar novos
territórios. A cerâmica dessas sociedades era altamente elaborada, demonstrando
um domínio de técnicas complexas de produção. Havia urnas funerárias elaboradas
(associadas ao culto dos chefes mortos), comércio e os indícios arqueológicos
apontam uma densidade demográfica de escala urbana nessas civilizações.
Acredita-se que a monocultura era praticada, além da caça e da pesca
intensivas, a produção intensiva de raízes e o armazenamento de alimentos.
Segundo a pesquisadora Anna Roosevelt, "O desenvolvimento da agricultura
intensiva nos tempos pré-históricos parece ter estado correlacionado à rápida
expansão das populações das sociedades complexas. Sugestivamente, os
deslocamentos e o despovoamento do período histórico aparentemente fizeram com
que estas economias retornassem aos padrões de cultivo menos intensivo de
raízes e à captura de animais (...)."(Roosevelt, 1997).
Figura 2 – Vaso Tapajó denominado “Vaso de Cariátides”.
Fonte - www.historiaparafazer.blogspot.com.br/p/historia-da-amazonia_30.html
Fonte - www.historiaparafazer.blogspot.com.br/p/historia-da-amazonia_30.html
Crônicas
do início do período colonial são hoje empregadas na reconstrução das antigas
civilizações brasileiras. Muitos cronistas estrangeiros descreveram elementos
indígenas do período dos cacicados complexos. A dissolução dessas organizações
sociais normalmente é relacionada à conquista, que teria abalado sua estrutura
demográfica.
Figura 3 – Urna Funerária da fase marajoara.
Fonte - www.commons.wikimedia.org/wiki/File:Funerary_vessel_Collection_H_Law_172_n1.jpg
Fonte - www.commons.wikimedia.org/wiki/File:Funerary_vessel_Collection_H_Law_172_n1.jpg
A
cerâmica produzida por estas civilizações é classificada em dois grupos
principais: o Horizonte Policrômico
e o Horizonte Inciso Ponteado.
Entre os sítios arqueológicos que apresentaram vestígios agrupados sob o
Horizonte Policrômico estão: os Marajoaras (foz do Amazonas) e o Guarita (Médio
Amazonas), entre outros localizados fora da Amazônia brasileira. Entre os
sítios arqueológicos associados ao Horizonte Inciso Ponteado encontram-se: Santarém
(Baixo Amazonas) e Itacoatiara (Médio Amazonas). O primeiro horizonte é
caracterizado pelas pinturas brancas, pretas e vermelhas, pelos temas
geométricos e pelas incisões. O segundo horizonte é caracterizado pelas
incisões profundas e pela técnica de ponteação. Acredita-se que o Horizonte Inciso Ponteado estivesse
associado aos antepassados dos povos de língua Karib, enquanto o Horizonte Policrômico teria sido
produzido pelos antepassados dos povos de língua Tupi.
Os
grandes sítios amazônicos da época dos cacicados complexos parecem ter tido
regiões especializadas para o enterro, o culto, o trabalho e a guerra. A
ocupação pré-histórica tardia do território era sedentarizada. A entrada do milho
e de outras sementes na região, assim como sua popularização entre os
americanos, data do primeiro milênio antes de Cristo. (Roosevelt,
1997).
4 O cacicado dos Camutins
Trata-se de um sítio Arqueológico composto por
34 aterros localizados ao longo do rio Camutins. Durante as pesquisas,
relacionou-se os locais de moradia, cerimônias e festas com as transformações antrópicas
da paisagem, estudou-se também as estruturas internas dos aterros cerimoniais,
de forma a entender os indicadores de complexidades social considerados
críticos para o estudo de cacicados – especialização e controle sobre a
circulação de bens e prestígio, hierarquia, centralização política,
legitimidade (ideologia e religião) e
militarização.
No sítio foram identificados feições da
paisagem relacionadas a um sistema de manejo hidráulico ao longo do rio
Camutins, que estava funcionando plenamente em 700 A.D. (Uma barragem e dois
lagos conectados ao rio, com capacidade para reter recursos aquáticos). Os
conjuntos de artefatos sugerem que uma fonte principal de amido era usada, que pode
ter sido obtida de palmeiras ou mandioca. A elite, possivelmente, trocava peixe
por alimentos produzidos em outras regiões. As festas podem ter sido
oportunidades para a feitura de trocas, assim como um meio para promover a
integração e cooperação dentro do grupo social. Não havia grandes diferenças
dentro do grupo da elite, isso indica que um grupo corporativo estava no poder.
Somente alguns itens de trocas à longa distância foram encontrados e estavam
associados com os enterramentos mais antigos escavados.
Itens de troca à longa distância podem ter sido
importantes durante o período de maior desenvolvimento do sistema de criação de
peixes, mas tornaram-se raros no final da sequência. A cerâmica era produzida
para o consumo local dentro do domínio da elite e era uma atividade sazonal. É
possível que a produção de poucos itens mais elaborados fosse uma atividade
para poucos, mas que não levava à especialização de certos indivíduos no
sentido de alijá-los de outras atividades produtivas e criar uma classe
especial na sociedade.
Outros cacicados podem ter surgido em locais
onde as condições ecológicas favoreceram a reprodução de sistemas de
subsistência similares. Estes cacicados certamente interagiram entre si em um
sistema que envolvia trocas, alianças matrimoniais e guerras.
4.1 O manejo hidráulico no cacicado dos
Camutins
Betty
J. Meggers e Clifford Evans, já nos idos de 1957, acertadamente afirmaram que
uma sociedade complexa, que teria dado origem a conhecida cultura Marajoara,
tinha uma vez existido na Ilha de Marajó, que é parte de um arquipélago
localizado no delta do Rio Amazonas, contudo pecaram visceralmente ao negarem o
seu desenvolvimento na Amazônia, dizendo que essa cultura parece ter chegado à ilha de Marajó no ápice de seu
desenvolvimento e que [...] sua
história local revelada no registro arqueológico é de uma lenta deterioração. Disse
também que uma origem fora da Amazônia no
noroeste da América do Sul, [...] está de acordo com a evidência para a
ocorrência generalizada de um nível similar de desenvolvimento sociopolítico
nas áreas dos Andes e Caribe (Meggers, 1987).
Anna
Roosevelt, em seu livro Parmana (1980), faz
uma crítica ferrenha à teoria de Meggers e Evans, afirmando que a cultura
Marajoara teria sim se desenvolvido na Amazônia, mas não foi feliz ao afirmar
que a principal fonte de proteína dos indígenas estava baseada na cultivação do
milho, pois segundo ela boa parte da
superfície de Marajó é composta de sedimentos profundos e ricos [...] os solos
são bem supridos com elementos nutrientes para plantas [...] o potencial
agrícola dos solos das planícies inundáveis de Marajó é, portanto,
significativo (Roosevelt, 1989), o que é uma incoerência, pois é sabido que
os solos da ilha são pobres e frágeis, assim, de certa forma, impossibilitando
o desenvolvimento de uma complexidade sociopolítica baseada somente na
agricultura.
Já
Denise Pahl Schaan, contribuiu ricamente para a elucidação desta questão quando
estudou o sítio arqueológico onde uma vez existiu o Cacicado dos Camutins que
se desenvolveu baseado principalmente nos recursos aquáticos. Ela afirma que a razão maior para o não-desenvolvimento
de uma agricultura intensiva não seria a pobreza dos solos, mas a abundância
dos recursos aquáticos, que proporcionavam uma fonte de alimentos mais
confiável, que poderia ser explorada com baixo investimento de trabalho
(Schaan, 2006). E é ainda mais contundente ao afirmar que a intensificação da captura de recursos
aquáticos pode ter estado na base do desenvolvimento de cacicados em toda a bacia
Amazônica no período que antecedeu a conquista, em vez de uma agricultura
intensiva (Schaan, 2006). O que a nosso ver parece ser a assertiva mais
correta.
5 Conciderações Finais
De acordo
com os dados obtidos no decorrer das pesquisas, ficou claro que os indígenas da Ilha de Marajó sabiam
manejar as águas dos rios a seu favor, construindo lagos artificiais,
conectados ao rio, que tinham capacidade de reter recursos aquáticos que são
abundantes na região. Isto posto, acreditamos que o surgimento da complexidade
social na Ilha de Marajó teria sido impulsionada muito mais pelo
desenvolvimento de uma pesca intensiva que pela agricultura, assim, podendo até
mesmo sugerir o seguinte modelo para entender outros
cacicados da ilha: uma sociedade hierárquica e estratificada, dividida em
nobres e comuns, com economia baseada na pesca intensiva, poder nas mãos de uma
linhagem que se colocava como descendente de deuses, utilização da ideologia e
controle sobre a religião para justificar a estratificação social, mobilização
de trabalho para a construção das obras de controle hidráulico, especialização
do trabalho não muito desenvolvida, mas tendo por base gênero, idade e posição
social; guerra, competição, trocas e alianças de casamento teriam caracterizado
as relações entre os cacicados.
6 Bibliografia Consultada
BALÉE, William. Culturas de
Distúrbio e Diversidade em Substratos Amazônicos. Revista de Arqueologia,
21, 2008.
______________. Sobre a
Indigeneidade das Paisagens. Revista de Arqueologia, 21, 2008.
CARNEIRO, Robert L. A Base
Ecológica Dos Cacicados Amazônicos. Revista de
Arqueologia, 20, 2007.
CUNHA, Manuela
Carneiro. História dos Índios no Brasil,
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MEGGERS, Betty J. Environmental Limitation of the development
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________________. The early history of man in Amazonia. Claredon
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NEVES, Walter Alves. Antropologia
Ecológica: um olhar materialista sobre as sociedades humanas. Cortez
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ROOSEVELT, Anna C. Parmana: Prehistoric maize and manioc
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___________________.
Lost civilizations of the lower Amazon. Natural
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SCHAAN, Denise Pahl. Marajó: Arqueologia, Iconografia, História e Patrimônio. Pueblos y Paisajes Antiguos de La Selva Amazónica, 2006.
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